quarta-feira, maio 13

Estamos aqui travestidos de Monstros?


Nos tempos cruéis em que vivemos, quando vemos os valores humanos tradicionais sendo desconsiderados ou invertidos, as instituições sendo arrastadas à podridão moral e ética, a representação política desacreditada por gangues de malfeitores que nela se instalaram, repressão policial preconceituosa e assassina. Percebe-se que o cidadão comum está cada vez mais por sua própria conta. Sem ter a quem recorrer e nem por quem gritar, envolto por cortinas sombrias e atolado em um mar de lama fétido e pútrido de onde luta ferozmente para se libertar.

A segurança pública desenvolvida pelo Estado é totalmente falha e genocida, mata-se depois pergunta: “quem é o morto?”. Caso ele (o morto), não tenha antecedentes, rapidamente se arranja um. Ele já tem tudo que precisa para ser um “criminoso”. Ele é preto e também é pobre!

Jovens negros são assassinados de forma cruel, sem nenhuma chance de defesa, revelando números que deixariam assustada a maior das guerras. O número alarmante de execuções por parte da polícia por motivos de “resistência” (94 óbitos de janeiro a abril de 2009) são verdadeiramente estarrecedores e duvidosos. O braço armado do Estado desenvolve um papel altamente preconceituoso, reproduzindo de forma intensa às ações racistas de uma sociedade branca e elitista que combate e coisifica o negro no Brasil, negando-lhe princípios básicos, e o que é pior: nunca admitindo o racismo exacerbado praticado em todos os âmbitos do poder que segregam e excluem a população negra..

De forma paradoxal, ao pensamento elitista que pensa estar tratando com pessoas que não tem outra serventia que não seja: roubar, matar, e consequentemente ser morto. O que se vê na verdade, são pessoas honestas que são assassinadas por um sistema facínora e dicotômico que nega aos negros tudo aquilo que é dado ao branco sem nenhum tipo de interpelação.

Não são admissíveis as diferenças existentes entre estas etnias no Brasil hoje, de um lado: você tem as disparidades salariais entre negros e brancos, a presença nas universidades, os números do sistema carcerário e outros.

Em tempos de PRONASCI, se dizer que: “incluir o preconceito racial nas discussões” acaba por desviar o foco das Conferências de Segurança Pública e privilegiaria uma “raça” em detrimento da outra, revela no mínimo uma ética enviesada e realmente discriminatória. Faz-se urgente a inclusão desse eixo temático na discussão do CONSEG (Conselho de Segurança) para que se possa repensar um novo modelo de segurança para o Brasil.

Jovem, negro, sexo masculino, com baixa escolaridade, morador de comunidades populares. Este é o perfil da maioria das vítimas de violência no país, segundo o Relatório Anual das Desigualdades Raciais 2007-2008. De acordo com a pesquisa, no período entre 1999 a 2005, cerca de 15,5 mil brancos foram assassinados. Entre os negros, no mesmo período, foram registrados 27,5 mil homicídios, ou seja morrem 3,33 pessoas negras e pardas por hora no país.Os índices de violência contra a mulher em Salvador são também crescentes e alarmantes.

Segundo a Pnad/2007 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), as mulheres representam 52,4% da população da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Dentre estas, aproximadamente 81,9% são negras e pardas.
Em 2007, foram registradas 8.875 ocorrências policiais na Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), relativas a crimes praticados contra mulheres, abrangendo desde ameaças até lesões corporais, espancamentos, estupros. Em 2008, foram 7.520 registros.

Segundo Dados de uma pesquisa de 2003, da Universidade de Brasília (UnB), mostram que o percentual de alunos e docentes negros nas universidades públicas brasileiras gira em torno de 0,5%. Mantidas as condições sociais de hoje para os próximos 170 anos indica que esse índice não ultrapassará 1% do total.
Dados mais recentes (2007/2008) revelam que a diferença no número de médicos brancos em relação a médicos negros é tão grande que precisaríamos de 25 anos sem a ingressão de brancos nesse curso para que se conseguisse alcançar uma proporcionalidade.

Os números acima são dados de uma guerra desigual e covarde promovida pelo Estado brasileiro contra as populações afro-descendentes e negras, com o intuito de preservar a elite branca e brancóide deste país. É necessário corrigir a postura, entender que nós não ESTAMOS AQUI TRAVESTIDOS DE MONSTROS, com o único propósito de assombrar as elites e suas criancinhas indefesas, que nossos direitos são tão legítimos quanto o de qualquer etnia existente no Brasil.

A ambivalência com que a sociedade branca dominante reage, quando o tema é a existência, no país, de um problema negro. Essa equivocação é, também, duplicidade e pode ser resumida no pensamento de autores como Florestan Fernandes e Octavio Ianni, para quem, entre nós, feio não é ter preconceito de cor, mas manifestá-lo.


Até a vitória e força sempre


Claudio Reis é fundador da PCE e atual
Ministro de Pesquisa Dados e Estatísticas da PCE