terça-feira, fevereiro 23

Revide, Confronto e Racismo: Mantém-se a política de Segurança Pública na Bahia.


A morte de quatorze jovens em Vitória da Conquista/Bahia e o desaparecimento de mais de cinco outros, segundo informações de integrantes e amigos de moradores da comunidade pobre e negra daquela cidade, não é um fato isolado. Faz parte de uma engrenagem maior que nós da Campanha Reaja vimos denunciando há cinco anos. Para além da conjuntura política e do governo que ocupe o gabinete do Palácio de Ondina, independente do ano eleitoral e de arranjos político-partidários.

Liguemos os fatos! Eles que determinam o atual massacre operado por policiais militares a tantos outros anteriormente denunciados e sem qualquer reposta das autoridades locais.

A impressão que temos nestes últimos três anos é que a polícia baiana está blindada por uma licença generalizada de matar negras e negros, sem qualquer controle.

Se não vejamos.

No dia 01 de março de 2007, três homens, a bordo de um carro preto, integrantes de um grupo de extermínio formado por policiais, assassinou com 09 tiros o jovem Clodoaldo Souza de 22 anos de idade, o “Negro Blul”.


Membros do Governo, Ministério Público, Defensoria Pública e Secretaria de Segurança Pública receberam as denúncias do caso e, até hoje, nenhuma resposta. Silêncio.
No mesmo ano, uma guarnição policial atirou contra o jovem aspirante da Marinha Edivandro Pereira, matando-o. A líder do MSTB, Aurina Rodrigues Santana , foi barbaramente assassinada junto ao marido e ao filho, Paulo Rodrigo Rodrigues e Robson da Silva Rodrigues por policiais que revidaram à sua atitude de denúncia frente aos constantes abusos e brutalidades à sua comunidade, em 14 de agosto de 2007 .


Nove jovens foram abatidos pelas costas, alguns dormindo e todos já rendidos por duas guarnições da RONDESP na comunidade de Fazenda Coutos. Eles tinham envolvimento com o tráfico de drogas. Justificativa padrão em todos os casos Mais de 2.400 pessoas foram mortas só em Salvador e região metropolitana.


60% vítimas de confronto com agentes policiais.... No que se institucionalizou o auto de resistência ou resistência seguida de morte, onde milhares de jovens negros tombaram ou desapareceram.


A morte destes jovens em 2008 inaugura a era Cezar Nunes, com sua política de seqüestro, de tortura e execução sumária.... do terror policial via estações de TV. Através da Criminalização e isolamento, organizações de do Movimento Social não cooptadas por recursos do governo para pesquisas e Seminários, Relatórios e encontros chapa branca como a Conseg – Conferência de Segurança Pública.


RONDESP, CAATINGA, COE ou quaisquer outras guarnições policiais são temidas nas comunidades negras na Bahia. Violam direitos civis, torturam, matam sem qualquer controle. Está instalado o Estado de Exceção. Com o mesmo método que arrasou dezenas de vidas e famílias em Vitória da Conquista.

Em 2009, depois da morte de um policial na comunidade de Cana Brava, mais de duzentos policiais, sob ordens expressas do Secretário de Segurança Pública Cezar Nunes, invadem a casa de cinco jovens. Retiraram-lhes dos braços de suas mães e os executaram com requintes de crueldade. Posteriormente tais atos foram celebrados por policiais e governo. Laudos periciais foram fabricados para justificar o injustificável.

Iniciando 2010, o Ministério Público e o Governo assinam, enfim, a crueldade dos métodos da polícia em sua segurança racista e fascista.
Estamos atentos para não serem desviados os reais motivos desta matança. Tememos pela vida de mães e testemunhas. Estamos operando sem vapor ou alarde. Apelamos para nossos aliados em níveis nacionais e internacionais para que exijam junto a nós:

Exumação dos corpos dos jovens de Cana Brava e uma nova perícia;

Reabertura do caso Aurina Rodrigues , líder do MSTB;

Justiça frente ao massacre de Vitória da Conquista ;

Apelamos para que o Governador Jaques Wagner demita o atual Secretário de Segurança, toda sua cúpula que serviu por anos aos Carlistas e todos seus Capangas e chame uma conversa aberta com a sociedade. Isto, se quiser guiar-se por uma lógica de Segurança Publica responsável realmente democrática baseada em Direitos Humanos e não Racista;
Imediata demissão do Secretário de Segurança Pública e da Cúpula da Polícia Militar
Reaja

sábado, fevereiro 13

Cultura Agonizante


Não tem graça, o espetáculo da morte em cartaz na 4ª cidade mais violenta do país. É aqui, nas terras de Ipitanga, Lauro de Freitas, que se assiste o infeliz acréscimo do número de homicídios que ceifam principalmente a vida de jovens negros.



O consumo de drogas e entorpecentes em alta, não encontra resistência para agregar novos figurantes, pois a cultura local, uma das principais bases do desenvolvimento social e sustentável deste município está agonizando.



É neste cenário vermelho que vemos o investimento em repressão policial superar o orçamento da cultura. O que se gasta no helicóptero da polícia, que leva pânico e aterroriza as comunidades pobres, daria pra produzir grandes festivais de cultura em toda cidade.



Os recursos do PRONASCI que já serviu para comprar viaturas e equipar a guarda municipal parecem desconhecer o potencial cultural que essa cidade guarda em suas entranhas. Nossa cultura agoniza, está à beira da morte. O pó, que deveria ser usado nos camarins para enfeitar a face dos artistas, adentra as narinas da juventude no inspirar da morte. O pano branco que deveria servir como cortina que se abre para o grande espetáculo da vida, cobre os corpos ensangüentados, furados de bala, jogados no chão de Santo Amaro.



A música, só é ouvida nas missas e cultos religiosos. O microfone que só se ver nas mãos das Margaretes, Danielas e Alciones não chega aos anônimos artistas locais que o substituem por PTs automáticas e trinta e oito.



A cidade cresce pro céu dando espaço a famigerada guerra pelo voto da “Minha Casa, minha Dilma”. As construções podem ser vistas por todos os cantos. Um oceano de concreto e ferro domina a paisagem, enquanto do teto do teatro, localizado na Praça Matriz, vemos os pingos da chuva, que caem como lágrimas chorando a dor da morte.



Vemos o corpo de quem dança se contorcer nas filas de emprego, pois não há orçamento para manter o artista de arte. Vemos a tinta do lápis de olho ser substituída pelo rejunte que tirou a visão do B Boy Valney há duas semanas. Vemos ainda o artista ser substituindo em sala de aula pelo PM bem intencionado. Coisas do PRONASCI que até hoje não apresentou a sociedade a prestação de contas. Onde foi usado esse recurso, afinal de contas?



Nesta cidade se assiste de camarote uma atividade cultural ser cancela por técnicos do governo, porque a ouvidoria municipal comandada por um pastor evangélico, entendeu que atividade cultural atrapalhava o culto dominical.



Essa é a cidade que brinca de cultura. Os personagens culturais são fictícios, as estruturas são cenários removíveis feito de sobra de material. As produções e ações culturais são meras encenações e os recursos são elementos de um show de ilusionismo.



Até as ações políticas tem ares circenses. Imaginem senhoras e senhores que o conselho de cultura é presidido, depois de um golpe institucional, pelo artista-coronel mór.



Em fim, eu, mero espectador escrevo do computador de uma associação cultural, mas fico por aqui, pois a luz está cortada e o “gato de energia” que vem da vizinha já vai ser desligado.



Ricardo Andrade
Produtor cultural