Uma árvore
nasceu no meio de uma comunidade. No início ninguém se importou muito, pois não
incomodava. A árvore começou a crescer e seus galhos começaram a fazer uma
sombra enorme nas casas. As pessoas queriam tomar um banho de sol, ou secar
suas roupas no varal e não conseguiam por causa da sombra da árvore.
A comunidade
começou a reclamar. No ônibus, no mercado, no salão, nos bares e clubes só se
falava da maldita sombra que perturbava a todos. Alguns grupos organizados
cobravam das autoridades uma providencia até que a situação se tornou
insustentável. Passou até na televisão.
Finalmente houve
uma reunião e as autoridades enviaram uma equipe para acabar com o problema da
sombra. Essa equipe munida de tesouras enormes começou a cortar os gravetos que
estavam mais salientes, aqueles galhos mais finos que ficam na parte mais
exterior da árvore. Não demorou muito e o “problema estava resolvido” O sol
agora brilhava sobre os telhados das casas e povo estava feliz, ninguém mais
pensava na árvore. Até que em outra
primavera novos gravetos cresceram e a sombra voltou a aterrorizar a sociedade.
É exatamente
dessa forma que nossa sociedade combate o crime, a violência e a insegurança. A
arvore do crime está bem no meio da sociedade, suas raízes são profundas e seus
tentáculos estão instalados nos poderes executivo, legislativo, judiciário.
Está na polícia, nas organizações sociais e nas entidades religiosas. O tronco
dessa árvore é rico em corrupção, sonegação, estelionato, tortura e hipocrisia.
Quando a
situação se torna crítica e a comunidade exige uma postura das autoridades, a
polícia é enviada com seus fuzis para furar o crânio daqueles negrinhos que
ficam vendendo sua balinha de maconha nas esquinas das ruas (os gravetos). Os
galhos mais grossos protegem o caule e a hipocrisia somada a corrupção impedem
que a raiz da planta seja atingida. O pior disso tudo é que nós, comunidade
ficamos felizes quando os exterminadores se apresentam com seu arsenal da
morte, somos incapazes de perceber que eles fazem parte do tronco e jamais irão
combater a raiz do problema.
No final, muitas
famílias chorarão seus óbitos, outras festejarão a falsa sensação de paz
enquanto novos pivetes são alimentados e fortalecidos com o próprio fruto da
maldita árvore.
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