terça-feira, dezembro 16

INSONIA: A parede rachada da lua nova

Ontem à tarde dei trela prun cochilo que me solicitou das dezesseis e vinte e sete às dezoito e quinze. O mesmo, mal agradecido, me roubou o sono da noite. Rolei quilômetros em minha nevoenta cama de solteiro.

A luz branaca da vela que torna minhas noites menos obscuras, cegava-me a vista sobre as pálpebras inquietas. Meus cílios se repeliam como pólos antagônicos...

Na parede, a recriminada rachadura, julgada e condenada pelo natal, me emancipava daquele estado de embriaguês consciente psicótico. Ela orquestrou e permitiu que meu planeta cárcere fosse invadido por alienígenas surrealistas.

Transpassei-me por seu intestino argiloso e libertei-me de mim mesmo. Esquivei-me das alcatéias dos que viram latas na madrugada e da horda noturna dos que não são estrelas do futebol.

Inclinei-me para o alto, do alto da minha relevância. Buscava um escuro mais abrangente do que o que abrangia meu ilhado universo diminuto. Minhas sobrancelhas penteadas e salivamente lubrificadas varriam a imensidão galáctica, retardadas apenas pela semi bola japonesa, que no alto, mais alto que minha altitude, testemunhava agora minha insignificância.

Partilhamos nossas dores... eu também não era inteiro. Mesmo cego, enxerguei que a gaiola só era um pouco maior. A rachadura na parede me mentiu. Isso aqui não é o tudo. Precisava voar. Mas a bola branca perdida na escuridão me retaliava acendendo meus dedos.

Ela me disse que seu estado era similar. No entanto ela voa. Mas não era o suficiente. Ela me disse. Que seu psico estado lunático era crescente. E cheia disso tudo, se abria e esvaziava-se em menstruação marmórea. Em seguida, surgia nova, nova, nova.

Ricardo Andrade
C/ Insônia

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