domingo, dezembro 20

Lauro de Freiras, O estado submetido a "fé" (1)

O que era pra ser configurado apenas como um caso de cancelamento de um evento juvenil, justificado pela falta de autorização do poder público, se transformou num alarmante e preocupante episódio de tráfico de influencia e peculato.

A fato ocorreu na tarde de domingo, 20 de dezembro, quando jovens de uma academia de musculação que funciona no Shopping Litoral Norte, produziam uma atividade de confraternização no estacionamento do shopping. O espaço havia sido liberado pela coordenação do shopping.

No mesmo estacionamento funciona uma seita evangélica intitulada “Nova Esperança”. O pastor da seita, ao perceber a movimentação dos jovens e a montagem da estrutura do evento, logo se posicionou contra e disse em alto e bom tom que o vento não aconteceria.

Após algumas horas, técnicos da prefeitura municipal, acompanhados de uma viatura da Polícia Militar compareceram ao local do evento e deram a ordem para que som fosse desligado e atividade cancelada. Alguns ingressos já haviam sido vendidos e um público de 40 pessoas aguardavam para entrar no espaço onde aconteceria a atividade.

Com justificativas vazias e sem amparo legal da lei, os servidores insistiam para que a produção do evento desligasse o som. Um deles chegou a dizer que a própria prefeita Moema Gramacho, teria ligado pro seu celular ordenando o fim da atividade.
Os técnicos da Secretaria de Serviços Públicos alegavam que os organizadores do evento não tinham autorização da SEPLANTUR pra realização do evento. Mas segundo advogados, o espaço privado do shopping dispensa tal autorização.

Ao presenciar todo acontecimento, constatamos que houve um perigoso tráfico de influencia envolvendo legisladores e funcionários públicos do auto escalão do município. Fatos curiosos e que carecem de atenção puderam ser observados nesse episódio:

- uma viatura da PM, um instrumento disputadíssimo na 4ª cidade mais violenta dos país, foi providenciada em poucos minutos, e ficou por mais de uma hora parada no local até que o som fosse desligado.

- técnicos da SESP foram encaminhados rapidamente ao local, em pleno domingo à tarde, no dia em que a cidade recebe a visita do governador do estado. Uma eficiência difícil de ver na administração pública. Vele ressaltar que em casos parecidos a visitas desses técnicos chega a demorar mais de 15 dias.

- se verdadeira a informação de um dos técnicos, que afirma que a Prefeita teria ligado pro seu celular ordenando o imediato fim do evento, fica caracterizado que houve um perigoso tráfico de influencia que coloca em risco a democracia.

Segundo informações de dentro do próprio governo, o pastor da seita evangélica teria acionado um vereador, também evangélico, que tratou de utilizar a estrutura pública para garantir o interesse do pastor que também fora seu “cabo eleitoral” e pelo que parece, contou com a participação do auto-escalão do governo municipal.

Ao ser questionada por nossa redação sobre a ação de seus técnicos, a Secretária Vânia Almeida SESP, entrou em contradição, desligou o celular e em seguida negou-se sucessivas vezes a atendê-lo.

Se comprovado o tráfico de influencia nesse episódio, Lauro de Freitas precisa urgentemente de uma intervenção do Ministério Público para que se apure as denúncias e puna os responsáveis, para garantir que as estruturas públicas estejam a disposição do conjunto da sociedade e não de um grupinho de pequenos poderosos que se acostumaram fartar-se das guloseimas do poder.

Ricardo Andrade
Editor