quinta-feira, maio 28

"Como pode ter educação se é preta?"


Está em curso na comarca de Lauro de Freitas o julgamento do mais notório caso de injúria racial já registrado nesse município. O processo será julgado pela Dra. Antônia Marina Aparecida de Paula Faleiros e já tem data marcada para a oitiva das testemunhas, duas audiências já foram realizadas.

O fato ocorreu no dia 29 de novembro de 2014, por volta das 11:30 da manhã no estacionamento de um açougue no bairro de Vilas do Atlântico. Em depoimento, a vítima, Cida da Silva, contou à polícia que estacionou seu veículo e se dirigiu ao interior da loja. Em seguida foi chamada por uma funcionária para retirar o veículo pois estava impedindo a saída de um outro. Ao voltar para estacionamento, Cida foi racialmente agredida pela proprietária do referido veículo que expeliu frases de cunho racial.  'Como poderia ter educação se é preta?' 

Cida explica que o veículo da agressora estava mal estacionado ocupando duas vagas e que por esse motivo ficou com a saída obstruída. “ Eu tive o cuidado de avisar a uma funcionária que o carro era meu e que poderia me chamar caso o outro veículo tivesse que sair antes de mim'. Afirma. 
Desnorteada e perplexa com as palavras da agressora, Cida não teve reação a não ser de retirar o veículo e chorar muito. Só depois, recuperada do susto e recomposta, decidiu agir.

“Não vou permitir que isso caia no esquecimento. Dezenas de mulheres negras como eu, são cotidianamente agredidas e humilhadas nessa cidade por pessoas como essa senhora, que se acham superiores pelo fato de serem brancas. Vou até o fim, e tenho certeza que a justiça será feita”. Afirma Cida ainda muito emocionada.

Para Michele Brito, coordenadora do Coletivo de Entidades Negras – CEN de Lauro de Freitas, esse caso é importante para que outras mulheres e homens negras e negros possam ter a coragem de denunciar o racismo, pois segundo ela, só com a denuncia e a punição dos agressores conseguiremos inibir essa prática vergonhosa. 

Cida conta com o apoio dos movimentos sociais, Conselhos da Igualdade Racial e da Mulher e da Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.