sexta-feira, fevereiro 25

Greve dos professores é legítima sim.


Acessando o blog de Fabiano Bluz essa manhã, vi o comentário de um anônimo que sugeri que os professores da rede municipal, em estado de greve, pesquisem os exemplos de escolas simples e desestruturadas que deram certo.

Sinto-me provocado a dizer a esses mesmos professores que não acatem esse conselho. Nós moradores das periferias dessa cidade e herdeiros da coragem e valentia de homens e mulheres negras que suportaram todas as desgraças da escravidão, não precisamos mais tolerar miséria alguma.
Se há exemplos que precisamos seguir, esses são os do Colégio Apoio, Mendel, Portinari e tantos outros, que no final de cada ano aprovam centenas de seus alunos na UFBA. Devemos pesquisar é o que existe de estrutura nessas instalações.
Essa história de conviver pacificamente com a miséria faz parte do alicerce do Racismo Institucional. O autor desse comentário com certeza tem seus filhos matriculados na rede particular e deve ser um alto funcionário do governo, o principal responsável pela greve.
Sugiro ao nobre comentarista que pesquise o valor da arrecadação municipal, some com os investimentos do PAC, mais as emendas parlamentares que são destinadas ao município, mais o dinheiro de organizações internacionais e mais os convênios que robustecem os cofres públicos, correlacione com o estado e condição que o município se encontra e responda.
É ou não é legítima a greve dos professores?

quarta-feira, fevereiro 23

Lauro de Freitas, Professores continuam em greve


Na tarde desta quarta feira, professores da rede municipal de ensino de Lauro de Freitas foram às ruas exigir melhores condições de trabalho.  A Associação de Professores de Lauro de Freitas (ASPROLF), que organiza a categoria disse em nota que não há condições de iniciar o ano letivo na situação precária em que as escolas se encontram.
Segundo a ASPROLF, faltam cadeiras e mesas nas escolas, a estrutura de muitas salas está comprometida e em alguns casos a fiação danificada, expõe alunos e professores a choques elétricos.
Os professores reclamam ainda, da falta de funcionários e denunciam, que há casos em que o mesmo funcionário acumula a função de manipular a merenda e cuidar da limpeza escolar. A questão salarial ainda não entrou na pauta das negociações, o que pode estender a greve por mais tempo.
Nas duas reuniões que a categoria teve com o governo municipal, não foi possível fechar um acordo e a greve segue por tempo indeterminado.

Nota: Ao sermos informados do ato, providenciamos nosso material e fomos até o Largo do Caranguejo para fazer as fotos e obter informações. Para nossa surpresa, fomos recebidos de forma desconfiada por parte dos manifestantes. Foi preciso nos identificar e esperar até sermos reconhecidos por um dos manifestantes e só então, autorizados a fazer a matéria.
Perguntamos o motivo de tanta preocupação e os manifestantes nos informaram que tem sido prática do governo, perseguir, coagir, intimidar e demitir trabalhadores que por ventura venham discordar e reclamar da gestão pública municipal.

Representação negra cresce no congresso



A representação negra cresceu no novo Congresso. O número de deputados que se autodeclaram negros saltou de 25 (5%), no começo de 2007, para 43 (8,5%) na atual legislatura. De maneira mais tímida, também aumentou a relação de deputados estaduais e distritais que se apresentam como afrodescendentes: passou de 30 para 39. No Senado, a bancada continua reduzida a apenas dois senadores: Paulo Paim (PT-RS) e Magno Malta (PR-ES).

Os dados fazem parte de levantamento feito pela União de Negros pela Igualdade (Unegro) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo se baseia em informações oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nas declarações dos próprios parlamentares para traçar um mapa da participação negra na política brasileira.

Fábio Góis
Congresso em Foco

sábado, fevereiro 19

Lauro de Freitas, A cultura da Violência


Falamos de uma das cidades mais violentas da Bahia, onde o índice de homicídios cresce assustadoramente. Lauro de Freitas, município da região metropolitana de Salvador, a exemplo de outras grandes cidades, sofre de forma trágica com os efeitos do crescimento desorganizado.
A especulação imobiliária que destrói as áreas verdes e impede a circulação de ar nas comunidades pobres, somada a ineficácia das políticas públicas que não dão conta do grande número de jovens que almejam o mercado de trabalho, o atendimento precário nos postos de saúde e o sucateamento das instituições de ensino podem ser identificados como elementos que fortalecem a violência em nosso dia a dia.
São invisíveis os resultados dos PRONASCI, PAC, PROTEJO e tantas outras siglas que só servem para propagandear partidos e instituições políticas. Ninguém diz quanto e onde foram usados esses recursos. Nada, absolutamente nada chega aos bolsões de miséria que só crescem no interior da cidade enquanto a atenção do poder público está concentrada nas barracas da orla.
No entanto o fator que mais que mais chama nossa atenção enquanto movimento social é a cultura da violência impregnada em nossos moleques que ainda muito cedo absorvem as “guerras” sem nem mesmo saber o que ela significa.
É comum ouvirmos durante nossas intervenções nas comunidades, esses jovens dizerem que não vão no bairro X ou na quebrada Y por não se “batem” com os “caras” de lá. E nós sabemos que na verdade, a guerra existente é pequena se comparado ao universo das pessoas decentes e honestas de nossa cidade. O que acontece é que os verdadeiros envolvidos nesta guerra, normalmente gente ligadas ao tráfico, conseguem ampliar essa rivalidade para os demais jovens da comunidade. Estes disseminadores da cultura da violência estão munidos da estrutura que o tráfico lhes proporciona: carro, som possante, cerveja no bar e o padrão do time. Às vezes são eles que pagam pela gambiarra pra iluminar o pagode que vai rolar a noite. São essas figuras que frequentemente financiam o som para a atividade cultural dentro das comunidades enquanto a secretaria de cultura está sem licitação pra som.
Vemos o governo chamar e convocar reuniões e mais reuniões com organismos nacionais e internacionais, quando na verdade, o problema é bel local. Falta gestão, é a falta de capacidade administrativa que dá fôlego ao tráfico e a violência. É a insuficiência do estado que abre caminho para que o crime se organize e isso não é novidade.
Lauro de Freitas enfrenta uma grave crise administrativa. Mais de três mil funcionários foram demitidos, os salários estão atrasados e as aulas estão suspensas por falta de funcionários nas escolas.
Moema concentra suas ações na não derrubada das barracas porque que dá mídia e sua foto aparece diariamente na imprensa local. Enquanto isso, pessoas sofrendo enfarto, recebem dipirona e são mandadas pra casa, por falta de um diagnóstico especializado nos postos e hospitais da cidade.
É necessário um levante social urgente e se os líderes e partidos que tradicionalmente promoveram essas ações estão atrofiados e embebecidos na varanda da institucionalidade, cabe então, as Zeferinas e Cândidos soltarem a voz.  
Ricardo Andrade
Campanha Reaja

quarta-feira, fevereiro 16

Comando da PM recebe comunidade do Fazendão

Após o episódio do dia 09, em que policias do Choque humilharam e espancaram um morador no Fazendão, Itinga, o comandante geral da PM, Coronel Nilton Mascarenhas, recebeu uma comissão de moradores da referida comunidade e os articuladores da Campanha Reaja.

O Coronel se mostrou bastante sensibilizado cos os relatos prestados pelos moradores e assegurou que as providencias serão tomadas no sentido de punir os responsáveis. O Coronel se desculpou e disse que essa não é a orientação do comando da polícia e que trabalhará incansavelmente até eliminar esse tipo de comportamento autoritário e abuso das corporações.

Para Hamilton Borges, articulador da Campanha Reaja esse é um momento ímpar na luta contra os abusos de poder praticados por polícias na Bahia.

“Temos hoje a oportunidade de denunciar esses atos ao principal responsável pela polícia, e não nos cansaremos de entrar nessa sala para denunciar quantas vezes forem necessárias...”.


sábado, fevereiro 12

Construção da OAS gera violencia no Fazendão

Policias Militares espancaram brutalmente o morador, Valter Silva Santos, na tarde de quarta feira (09/02) na rua Antônio Fernandes localizada no Fazendão, bairro de Itinga, Município de Lauro de Freitas.
Tudo ocorreu durante um protesto organizado pelos moradores que reclamavam da intensa movimentação de caçambas e carretas que todos os dias fazem o transporte de material para uma obra que a OAS realiza no Fazendão e tem causado rachaduras nas casas, afundamento do asfalto, além de provocar doenças respiratórias, devido a poeira que é suspensa ao ar na passagem desses veículos.
O protesto foi organizado para reivindicar que a construtora OAS também passe carros pipas para conter a poeira. Durante o protesto, o ônibus transportando jogadores do Esporte Clube Bahia, que ainda treinam no local, foi impedido de passar. A polícia foi acionada, e ao chegar ao local, segundo moradores, agiu de forma violenta, xingando pais e mães de família. Além de algemar e espancar um portador de deficiência física, ameaçou esmurrar uma senhora de 65 anos de idade.
Segundo Valter, apesar de estar imobilizado e algemado foi agredido várias vezes com tapas no rosto. Ao ser conduzido pelos PMs da ROTAMO, Valter foi levado ao hotel Marina Riverside, na estrada do Coco, onde ficou por mais de duas horas detido, esperando acabar o treino do time do Bahia.
Valter acusa ainda a PM de tentar coagi-lo a não denunciar a ação na corregedoria, com a promessa de não leva-lo a delegacia. Negado a possibilidade do acordo, Valter foi encaminhado a 27ª Delegacia em Itinga onde foi maltratado pelo delegado plantonista, Sr Nilton que tentou impedir que ele fizesse o exame de corpo de Delito. Chegando a insinuar que Valter seria usuário de drogas.
Após ser liberado Valter procurou a corregedoria da polícia onde registrou a queixa. A Campanha Reaja foi acionada pelos moradores e articulou para manhã de segunda-feira uma reunião com o Coronel Mascarenhas, Comandante Geral da Polícia Militar, na sede da polícia, onde será solicitada a imediata punição dos agressores.
A Campanha Reaja também recorreu ao ministério público para acionar a OAS. Os moradores querem ser indenizados pelos danos causados pela obra.

segunda-feira, fevereiro 7

Os barracos de Ipitanga



 
Eles estão comprimidos ao longo do lixão no bairro do Quingoma, interior de Lauro de Freitas. São feitos de papelão, madeira, pedaços de plásticos e zinco. Nenhum deles custa 200 mil reais como as barracas de Ipitanga, por isso não despertam tanto interesse do governo e da imprensa tradicional.
Dentro desses barracos não tem freezers, estoque de cerveja, nem refrigerantes. “Só” tem gente. Muitas vezes tem cachorro. As pessoas que moram nesses barracos são bastantes pobres, não podem apoiar candidaturas de prefeitos nem vereadores, não tem dinheiro para contratar imprensa, nem pagar matérias nos blogs.
Lá onde fica esses barracos, não tem asfalto nem iluminação especial para as tartarugas. Os barracos de Quingoma não tem CNPJ como as barracas de Ipitanga. As pessoas lá não têm, nem registro de nascimento.
Não há nenhuma ação federal, nem liminar, nem política pública alguma para os barracos de Quingoma, eles não têm essa importância. Ninguém até hoje explicou o motivo do asfalto ter sido colocado na avenida de baixo, onde só tem mato de um lado a outro, e onde moram pessoas o caminho ainda é de barro.
Mas, mesmo indignos de atenção, esses barracos sobreviverão a derrubadas das barracas. Não dá pra prevê se essas pessoas, ao menos, vão assistir a copa do mundo de 2014 num telão digital dentro de seus barracos. Um incêndio pode “acontecer ocasionalmente” e um prédio desses da Minha Casa Minha Vida pode ser construído no local. Mas do alto do Quingoma, lá perto de Deus, os barracos permanecerão de pé, mesmo longe da atenção do executivo, mesmo longe do legislativo e dos holofotes da grande imprensa.
E só pra finalizar, vale dizer que o lixo produzido pela derrubada das barracas de Ipitanga vai servir para os Barracos de Quingoma. Ao menos essa relação há, entre as barracas e os barracos de Lauro de Freitas.