segunda-feira, agosto 29

A culpa é do sistema


Quando em nossas apresentações, intervenções e discussões dizemos que a culpa é do sistema, não estamos simplesmente reproduzindo um jargão “juvenil modista e sem fundamento”.  Quando nossas músicas falam do sistema, fazemos uma critica fundamentada, baseada numa leitura histórica de fatos que nos antecederam. O sistema é e sempre foi o grande vilão da história.   
A análise histórica nos revela que o primeiro sistema sócio-político-econômico implantado no Brasil, foi o sistema escravocrata. Foi essa relação (senhor/escravo) que serviu como base para a formação e estruturação do estado brasileiro. A escravidão moldou a sociedade em que vivemos.
Nesse sentido, podemos afirmar que somos uma nação herdeira. De um lado, temos os herdeiros dos benefícios produzidos pela escravidão e do outro lado, os herdeiros dos malefícios gerados pelo sistema escravocrata.
Aos filhos, netos e bisnetos dos senhores de engenho, o sistema escravocrata deixou como herança,  os grandes latifúndios, as usinas e as grandes fazendas espalhadas por todo o Brasil. Para os filhos, netos e bisnetos de africanos, o sistema escravocrata deixou como herança a fome, a miséria e o desemprego.
Encontramos os descendentes dos senhores de engenho nos casarões e mansões de Vilas do Atlântico, Encontro das Águas, Pituba, Graça, Caminho das Árvores. Já os descendentes de africanos no Brasil podem ser  encontrados nas grandes periferias como Itinga, Portão, Lagoa dos Patos, Bairro da Paz e Nordeste de Amaralina.
Acontece que os africanos deixaram outra herança para os seus descendentes. Uma herança positiva. Herança essa, que o sistema não consegue destruir. Nós herdamos de nossos antepassados a força e a coragem dos grandes reis e rainhas africanas que foram trazidos para o Brasil. Herdamos a bravura e a vivacidade de Zumbi dos Palmares, Dandara, Gangazumba e Akotirene.
Por isso somos tão poderosos e possuidores de talentos incríveis. Por isso, que mesmo sobrevivendo em situações difíceis em nossa quebrada, sem rede de esgoto, água encanada, sem empregos e sem lazer, nós ainda assim, conseguimos produzir vida e sermos felizes.
E em memória desses homens e mulheres que lutaram no passado que devemos honrar nosso povo e lutar a cada dia pra que esse sistema capitalista, fruto do escravocrata, reconheça e pague a enorme dívida que tem para com cada homem e mulher negro(a) desse pais.         

sábado, agosto 20

Entrvista: Mano Brown fala sobre o filme Marighella

O rapper Mano Brown, 41, é o autor da música que encerra "Marighella". "Ele viu o filme inteiro três vezes, e não quis cobrar pelo trabalho. No final, comentou: 'Você não está fazendo este filme para seus pares, quem precisa de heróis é minha gente'", lembra a diretora Isa Ferraz.

O rapper Mano Brown durante show do Racionais MC's no Festival Black na Cena, no Anhembi, em São Paulo



Folha - Por que aceitou o convite de participar de "Marighella"?

Mano Brown - O convite chegou através do movimento negro. Algum cara do rap já tinha me falado sobre ele, eu conhecia de longe, só a lenda, pois é algo de não sei quantas gerações atrás. Alguém me falou também que em algum detalhe ele parecia comigo. Na luta dele, na idéia. Somos os dois filhos de preto com italiano e minha família também vem da Bahia.

Quais os paralelos entre suas ideias?
Marighella lembra Malcom X, lembra Public Enemy, lembra Racionais. Muito do que cantamos no rap provavelmente veio dele. Por exemplo, o conceito da violência contra a violência. A luta dele vem de uma época em que não podia ter eleição direta, toda hora tinha golpe. Ele foi proibido de correr pelo certo. Resolveu usar a força pois só isso resolveria.


Em que medida a luta dele se assemelha com a luta de hoje?
Hoje temos um governo de esquerda. Se ele estivesse vivo, provavelmente estaria apoiando Dilma e Lula. Mas a luta continua a mesma. A direita está aí, as forças contrárias estão atuando.


Quais, por exemplo?
O governo Alckmin é inimigo, é um governo racista de polícia, de repressão. A morte de pretos aumentou pra caramba sob sua gestão. A polícia na rua enchendo o saco e botando pressão onde não tem motivo.


E o Kassab?
É outro inimigo. Desde que assumiu, o número de shows dos Racionais diminuiu muito. Tudo que ele faz hoje é contra a cultura negra, não deixa o povo tomar a frente. É um governo racista do caralho.


Muita gente andou estranhando ver os Racionais dando show em clube de playboy.
É por falta de opção. Onde tem show dos Racionais a polícia fica pegando no pé, pedindo um monte de documento. Mas em certas baladas e boates, eles não entram.


Você foi enquadrado pela polícia recentemente no aeroporto. Como foi?
Ridículo. Só neste ano, acho que fui enquadrado umas dez vezes. Os caras me reconhecem e param. Nesse enquadro do aeroporto o polícia me chamou pelo nome diante de um monte de gente, até repórter tinha.


Como enxerga a emergência da classe C?
Tem um monte de gente comprando e consumindo.O pessoal vai atrás da aparência, compra roupa, telefone. Lógico que é necessário mas o principal está faltando: educação e instrução, e faculdade gratuita. Faltam bons motivos pra estudar. Única coisa que dá pra estudar, que dá resultado, é computador. O ensino está defasado e quem aprende outras coisas fica excluída, sem benefício nenhum.


E a cultura do consumismo?
A gente sempre constestou isso. Somos contra várias marcas. O movimento nosso não tolera envolvimento, alianças e negócios.


Voltando ao filme, você assistiu? O que achou?
O filme é ótimo. E tem um ponto de vista diferenciado, pois foi feito pela sobrinha dele. Hoje em dia Marighella é visto como herói mas na época não era assim. Achei que tinha que passar essa visão pros caras.


E a música que você compõe?
Tentei não plagiar as coisas que li sobre ele. Tentei somar, não copiar. Traduzir a ideia dele pra rapaziada. Agora, eu não convivi com o cara, tentei projetar uma visão real sem sensacionalismo barato - o que tá difícil ultimamente.


Qual a relação dela com o contexto de sua obra?
Tudo a ver. E agora estamos fazendo um novo disco. A maioria das músicas está pronta. Só que desta vez estou carregando meu piano, colocando os caras (demais integrantes do Racionais) na cara do gol: eles estão saindo mais na frente, estou ficando na contenção. Grupo é grupo.


Quando sai o novo disco?
Pode ser neste ano. Mas o disco já não é mais tão importante, virou um cartão de visitas muito caro. Compensa mais por a música na rua, e isso a gente já está fazendo.


Que acha dos nomes que estão despontando, como Criolo e Emicida?
Eles são muito bons, acima da média, mas o que não entendo é que tem três mil nomes pra falar e a mídia só fala em três. Ninguém dá espaço para gente que está aí faz tempo, como o Dexter ou Realidade Cruel. Acho que há um preconceito muito grande com o rap mais militante. É preciso conciliar esta nova geração com o rap mais combativo.


Algum recado para seus fãs?
Não perder a resistência e se fechar na ideia de saber o que quer. Tomar cuidado com as informações rápidas e erradas. A impressão é que não existe coisa para conquistar. Ao mesmo tempo, protestar virou moda, tem que tomar cuidado pro protesto não ficar apenas entre aspas.

* Folha de São Paulo

segunda-feira, agosto 15

Reparação na Conferencia de Juventude de Lauro de Freitas

Voucher: Vazamento de imagens será apurado


O vazamento na internet das imagens dos presos na Operação Voucher, da Polícia Federal, será alvo de uma sindicância no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen). O comando do órgão pretende identificar os responsáveis pela divulgação das fotos de seis dos suspeitos de integrar um suposto esquema de corrupção no Ministério do Turismo. De acordo com o G1, a assessoria de imprensa do governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), informou, após reunião extraordinária neste sábado (13), que as apurações serão conduzidas de forma sigilosa e não haverá divulgação de dados. Além de a própria presidente da República, Dilma Rousseff, ter repudiado o episódio, o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu na sexta-feira (12) ao chefe do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluzo, que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) investigue o vazamento das fotos.

* Fonte: Bahia Notícias


 
Nota da Quilombo Xis-Ação Cultural Comunitária  e Asfap/Ba 
sobre a violação da imagem de pessoas suspeitas de cometerem  crimes

Todos os dias as imagens de pessoas negras e pobres são violadas em todo território nacional. O olhar cúmplice do governo brasileiro, do parlamento e do judiciário finge não ver o absurdo da violação ao principio da dignidade humana, do devido processo legal e do incremento da política de defesa social que faz dos negros e pobres os inimigos internos de uma pais racista como o Brasil.
Não há diferença, nem avanços, nesse campo, com a presença de uma suposta esquerda no poder. “Tudo permanece como dantes”.
A Presidente Dilma “repudia o episódio” por se tratar de “bandidos”  brancos exibidos pela sanha de uma imprensa  sensacionalista que reputa-se operadora do direito penal.
Nós ainda aguardamos a retirada do “baralho do crime” que opera a exposição de suspeitos, pessoas processadas sem trânsito em julgado, ferindo o devido processo legal e a presunção da inocência. Seu crime mais grave: serem negros .

Com a palavra os parlamentares negros e negras da base aliada que se dizem defensores da luta dos negros no Brasil. Nesse mês de Agosto os baralhos são como as forcas que supliciaram os revoltosos da Revolta dos Búzios...a mesma exposição com técnicas diferentes.
Que falem os parlamentares que juraram ampliar a voz do Movimento Negro, mas que se calam quando o crime vem do Palácio de Ondina, onde descansa, em boas noites de sono, mais um cabeça branca.

Por um Movimento Negro autônomo e independente
Pela desmilitarização dos territórios Negros
Contra a Política de Defesa Social do Governo da Bahia.