terça-feira, janeiro 8

Reflexões sobre o forno inclinado





O Brasil, país cuja economia já desponta como a 6ª mais poderosa do planeta e que, portanto, já goza do prestígio e respeito das nações mais influentes do mundo, não consegue equacionar problemas estruturantes que contrapõem radicalmente seu tão almejado status de nação desenvolvida.

O extermínio, o genocídio e a violência urbana em grande escala, que se apresentam como características de países em situação de guerra e/ou conflituosas, fazem parte do nosso cotidiano contrastando com a busca incessante, da elite brasileira, que almeja que o Brasil componha o rol dos países mais desenvolvidos do mundo.

A explicação pra tanto descompasso pode estar no processo de formação do nosso estado que se deu de forma defeituosa e nem todas as matrizes existentes foram consideradas em nosso projeto de nação. Por isso, é tão difícil crescer de forma uniforme. É por isso que, na mesma proporção que a economia cresce, visualizamos o aumento das violências que, alicerçadas nos mais diversos pilares, têm diminuído a nossa capacidade de disputa internacional. Fator esse que   nos torna menos atraentes e menos competitivos.

A especulação encontra nessa nossa desordem elementos pra nos tirar da rota dos investimentos. Somos como um bolo num forno inclinado que cresce mais pra um dos lados.

É impossível uma nação crescer de forma uniforme quando parte de sua juventude, ao invés de estar inclinada ao desenvolvimento do seu produto intelectual e criativo, passa a maioria do seu tempo buscando formas pra se manter viva. Não seremos uma nação bem sucedida pra ninguém enquanto jovens negros contam os dias pra sair da cadeia, ao invés de estarem debruçados sobre suas teses em final de curso. Enquanto uma parte da juventude brasileira (a elite) caminha rumo ao futuro, outra parte muito maior,  se esquiva das balas que lhes furtam a vida no presente.

Como se tornar uma nação rica e poderosa sem combater o racismo?
Como desenvolver sem fazer uma releitura do processo de construção de nação e estado brasileiro? Como crescer se ao invés de escrever teses que fortaleçam nossos argumentos nas disputas junto a Organização Mundial do Comércio, concentro meu tempo em denunciar a ação genocida estatal que dizima pessoas como eu, nos bolsões de miséria espalhados por todo nosso território?

Ricardo Andrade
PT - EPS
Lauro de Freitas
Bahia.

*Do informativo, Folha Vermelha
Edição 2 - Janeiro 2013

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