domingo, março 17

A questão racial e os pilares estruturantes da luta



O debate racial em Lauro de Freitas paira sobre um ar de superficialidade. Acredito na disposição das pessoas que estão à frente dessa luta na atual gestão, mas, temos que admitir que nosso maior desafio numa estrutura de governo é identificar e combater veementemente o racismo institucional. Identificar os perfis racistas na administração é fundamental para focar nos esforços para combatê-los e estirpá-los das administrações onde se localizem.


De imediato, o novo governo de Lauro de Freitas já cometeu dois grandes equívocos, no que tange à luta racial no município. Primeiro relocou a estrutura de combate ao racismo para a pasta de Assistência Social. Ora, todos sabemos que o grande desafio do movimento negro ao longo de mais de 30 anos, foi dissociar a luta racial das ações sociais. Combater as desigualdades sociais não é a mesma coisa de combater o racismo, muito pelo contrário, o governo abre precedentes para que os racistas justifiquem suas inoperâncias dizendo que as ações sociais contemplam os negros em sua grande maioria.

O segundo erro é quando resume uma estrutura de Superintendência a um simples Departamento. Essa ação reflete o olhar minimizado que a nova gestão tem para com essa bandeira de luta, em sentido diametralmente à que vinha sendo construída, mesmo que com dificuldades e eventuais discordâncias da linha de condução da política. Temos uma comunidade negra nesta cidade, que responde pelo quantitativo de 83% da população municipal, ficando evidenciado que a estrutura de combate ao racismo tem que possuir um tamanho e importância institucional proporcional a essa demanda.

Defendo que os primeiros trabalhos estejam debruçados sobre esses pilares estruturantes da luta racial. Defendo a criação de uma Secretaria de Promoção da Igualde ou que no mínimo as estruturas de combate ao racismo lotadas no gabinete do prefeito, já que este é o centro nervoso de decisão do governo e portanto tem a condição de efetivar as medidas indicadas nas discussões do setor com o povo negro. Defendo que o prefeito crie, imediatamente, o Fundo Municipal de Promoção da Igualdade Racial, com a garantia de que o mesmo, além de ser gerido de forma autônoma pelo órgão específico, não sofrerá os famosos cortes do setor financeiro da gestão, nos já conhecidos remanejamentos e e anulações de dotação, entendendo que essas ações darão um novo sentido à luta racial no município.

Em paralelo, defendo que nós, protagonistas da luta, concentremos nossas energias naquilo que realmente é significativo para nossa gente. Precisamos fazer um debate sobre a política de combate ao racismo e apresentar um plano de promoção de igualdade racial, inclusive tentando resgatar o trabalho produzido pela gestão anterior, revisando o seu conteúdo, de acordo com a nossa compreensão da luta. Esses pontos da nossa pauta de lutas são de fundamental importância para que as nossas ações não sejam vistas como descentralizadas, desconectadas e vazias. Os eventos, as atividades só trarão resultados se estivem dentro de um contexto integrado de luta.

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