Eles estão comprimidos ao longo do lixão no bairro do Quingoma, interior de Lauro de Freitas. São feitos de papelão, madeira, pedaços de plásticos e zinco. Nenhum deles custa 200 mil reais como as barracas de Ipitanga, por isso não despertam tanto interesse do governo e da imprensa tradicional.
Dentro desses barracos não tem freezers, estoque de cerveja, nem refrigerantes. “Só” tem gente. Muitas vezes tem cachorro. As pessoas que moram nesses barracos são bastantes pobres, não podem apoiar candidaturas de prefeitos nem vereadores, não tem dinheiro para contratar imprensa, nem pagar matérias nos blogs.
Lá onde fica esses barracos, não tem asfalto nem iluminação especial para as tartarugas. Os barracos de Quingoma não tem CNPJ como as barracas de Ipitanga. As pessoas lá não têm, nem registro de nascimento.
Não há nenhuma ação federal, nem liminar, nem política pública alguma para os barracos de Quingoma, eles não têm essa importância. Ninguém até hoje explicou o motivo do asfalto ter sido colocado na avenida de baixo, onde só tem mato de um lado a outro, e onde moram pessoas o caminho ainda é de barro.
Mas, mesmo indignos de atenção, esses barracos sobreviverão a derrubadas das barracas. Não dá pra prevê se essas pessoas, ao menos, vão assistir a copa do mundo de 2014 num telão digital dentro de seus barracos. Um incêndio pode “acontecer ocasionalmente” e um prédio desses da Minha Casa Minha Vida pode ser construído no local. Mas do alto do Quingoma, lá perto de Deus, os barracos permanecerão de pé, mesmo longe da atenção do executivo, mesmo longe do legislativo e dos holofotes da grande imprensa.
E só pra finalizar, vale dizer que o lixo produzido pela derrubada das barracas de Ipitanga vai servir para os Barracos de Quingoma. Ao menos essa relação há, entre as barracas e os barracos de Lauro de Freitas.